Olá, 

Hoje vamos falar não de uma “pandemia”, como a do COVID 19, mas sim da maior endemia da América Latina, a Doença de Chagas. A doença foi genialmente descoberta pelo brasileiro Carlos Chagas em 1909, no município mineiro de Lassance durante programa de controle da malária. Chagas foi o único pesquisador no mundo até hoje a descrever a doença, o agente etiológico, o vetor, reservatórios domésticos e silvestres susceptíveis, sua via de transmissão e as formas clínicas de uma mesma doença.

A doença de Chagas, é causada pelo Tripanosoma cruzi.. Estima – se que haja nove milhões de chagásicos espalhados por quase toda a América Latina. A doença de Chagas é um exemplo típico de uma injúria orgânica resultante das alterações produzidas pelo ser humano ao meio ambiente, das distorções econômicas e das mazelas sociais. O protozoário responsável pela doença vivia restrito à situação silvestre, circulando entre mamíferos do ambiente natural, foi o homem quem invadiu esses ecótopos e se fez incluir no ciclo epidemiológico da doença, oferecendo ainda ao barbeiro vivendas rurais de péssima qualidade, frutos de perversas relações de produção e de políticas sociais restritivas. É fácil perceber que as distorções econômicas influenciam fortemente na distribuição da doença e na qualidade social. Historicamente, em toda a América Latina, essa qualidade já se acha profundamente comprometida, especialmente em relação às condições de moradia, mas também no que concerne à saúde e à educação, perpetuando inexoráveis ciclos de pobreza/enfermidade. 

Acredita–se que sua maior incidência possa ter ocorrido na primeira metade do século passado, notando–se posteriormente uma progressiva urbanização da endemia, fruto da crescente migração da população rural para as cidades. A via de transmissão vetorial, responsável por oitenta por cento das infecções, se dá através da picada do inseto gerando uma perda da continuidade da pele, servindo como porta de entrada das fezes do barbeiro infectado no homem.  A transmissão transfusional é a segunda mais comum respondendo por dezoito por cento das infecções e ocorre com a passagem de sangue de uma pessoa infectada para outra e a transmissão congênita que é rara, incidindo principalmente entre o terceiro e o quinto mês de gestação na dependência de uma lesão da placenta

A partir de medidas efetivas ocorridas em zonas endêmicas nos anos 80/90, a incidência vem caindo drasticamente nas últimas décadas no território latino – americano. Hoje a doença, está sob controle em torno de 90 % das áreas endêmicas e associado há um bom controle sanguíneo nos hemocentros, vem mantendo uma baixa incidência nestes países, apesar de sua alta prevalência. 

A doença de Chagas pode ser detectada por exames de sangue específico, apresenta a forma aguda, geralmente autolimitada e a forma crônica. A maioria da forma crônica fica como indeterminada (sem sinais de doença), ou evolui para os mega digestivos ( megacolon e megaesôfago) e/ou a forma cardíaca. A miocardiopatia chagásica apresenta desde simples alterações eletrocardiográficas até insuficiência cardíaca grave.

 A doença de Chagas não tem tratamento específico para sua forma crônica, sendo o tratamento direcionado de acordo com a alterações encontradas em cada indivíduo. Medidas gerais de cuidados devem ser tomadas como: perda de peso, atividades físicas de acordo com a capacidade física, vacinas contra influenza e pneumonia e restrição do consumo de sal e de bebidas alcoólicas.

Recentemente ingressei no departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e este será o tema do nosso próximo encontro. Medidas de prevenção de doenças cardiovasculares.